quinta-feira, 1 de março de 2018

# Fotógrafo Convidado do Mês Março : Joana Bom

Formada em Economia, começou a estudar Fotografia de forma autodidacta em Outubro de 2014, num contexto de forte desemprego no país, Portugal. Através do Centro de Emprego (IEFP) frequenta o Centro Protocolar para Formação de Jornalistas (CENJOR/Lisboa), onde concretizou todos os módulos de Fotografia como Iluminação, Composição, Laboratório e Fotojornalismo, com os docentes Gonçalo Salema, José Soudo, José Manuel Ribeiro, Reinaldo Rodrigues, Ricardo Dias, entre outros. Com um forte gosto pelo fotojornalismo, tem vindo a debruçar-se sobre temas de conflito na conjuntura actual, como a questão do fluxo de refugiados na Europa. Recentemente, encontra-se a trabalhar num registo fotográfico documental sobre As comunidades ribeirinhas e a cultura do açaí (Belém/Brasil). O trabalho As marcas de uma Polícia ainda militar (Brasil) encontra-se, também, em curso, trabalho este que se inscreve no âmbito do jornalismo investigativo. Desenvolve igualmente um trabalho conceptual, centrado na Mulher, com enfoque na problematização da sexualidade.
joanabom.wordpress.com










MARROCOS | ON THE ROAD por Joana Bom Apesar de uma viagem ao estilo motard significar muitos quilómetros em cima da mota e poucos no chão, não sendo certamente o tipo de viagem que mais possibilitará um contacto próximo com as populações e seus costumes, ela permite-nos, por outro lado, uma observação distanciada e muitas horas de introspecção e reflexão, assim como um deleite com as cores das paisagens, as etnias e as vestes, as casas e os campos. De Portugal a Tarifa, onde já se avista África quase tão próximo como Almada, e posteriormente de Tarifa a Tânger, em pouco mais de meia hora de barco se chega a África, se chega a Marrocos. De mota vamos percorrendo as estradas, que insistem em cruzar as cidades. Ao lado, transeuntes, bicicletas, mercados, montanhas e desertos. Com um grande número de turistas, Marrocos tem boas estradas e paisagens admiráveis. Desde as montanhas do Atlas às do Rife, até às cores do Saara em contraste com o oásis de Erfoud, pode desfrutar-se de belezas incríveis já bastante conhecidas entre o meio turístico. Algumas cidades estão tomadas por este público e correspondente comércio para ele direccionado, facto que não parece reverter-se para as comunidades locais, que permanecem pobres, com necessidades básicas por suprir, nomeadamente médicas e alimentares. Um quarto por noite num dos aclamados rhiads pode facilmente custar um salário mínimo do país. Nos mercados vende-se de tudo, e as medinas, como a de Fez, deixam perceber como na cidade velha se vive do comércio. Ovos, pão, tapetes, bijuteria, carne e especiarias, em meio a muitos restaurantes e barbeiros. Os burros, ainda o principal meio de transporte, carregam as mercadorias pelas ruas estreitas. No deserto, as tonalidades mudam. As casas pintadas com tinta de terra confundem-se com a paisagem, os tuaregues fixam-se na beira das estradas, os olhos mudam de cor, e o oásis aparece. As matrículas europeias são uma constante por aqui, jipes, caravanas e motos. As crianças acorrem ao som da moto. Pedem dirahns e umas aceleradelas para ouvir o som dos motores. Entre os clientes dos restaurantes não se encontram locais. Por outro lado, o Rei Maomé VI faz-se sempre presente. Sendo Marrocos uma monarquia, a figura suprema do Rei faz-se obrigatória em qualquer estabelecimento comercial, estando sempre representada através de uma fotografia ou de uma pintura da entidade. Marrocos é um lugar curioso. As mulheres com as suas vestes coloridas, tecidos que esvoaçam. Os cantos escondidos das ruas estreitas, por onde alguém se perde de vista na penumbra dos tapetes pendurados. O calor que instala suas sombras, e explicita os seus contrastes. Apesar das diferenças culturais, a História permite alguns paralelismos para perceber influências mútuas. Por isso, Marrocos é não só uma introdução ao mundo muçulmano e a África, como à nossa própria História deste lado de cá do Estreito de Gibraltar.